Em qualquer relacionamento humano, quando duas pessoas ou correntes se apaixonam, o fazem por descobrirem novidades transformadoras de suas vidas. Na medida em que o tempo passa, esse amor ganha contornos de intensidade e vai crescendo até o desgaste natural do tempo transcorrido ou se interrompe precocemente pela quebra de confiança, pelo desgaste, pelo conhecimento pleno das qualidades e defeitos do outro; numa eleição ocorre mais ou menos a mesma coisa. O eleitor se encanta com o candidato que lhe oportuniza novidades, esperança e pelo discurso, conquista confiança e há uma paixão entre eleitor e candidato que se prolonga pelo tempo em que persiste essa confiança, podendo aumentar a paixão ou se desgastar pela quebra ou diminuição dos laços que unem um ao outro.
Elegemos neste último ano um presidente que, para a maioria dos eleitores, era a paixão do momento. Como os enamorados, havia confiança, esperança de que viveriam momentos inesquecíveis; com crescimento econômico, segurança, respeito e todos os requisitos para uma vida melhor para os dois: presidente e brasileiros, antes seus eleitores. Entretanto, essa paixão está se desgastando rapidamente pelo comportamento daquele em que todos (seus eleitores) depositavam sua confiança. Em dois meses, os índices de popularidade despencaram; em torno de 30% para bom e ótimo. Nesse curto espaço de tempo, assistimos a um discurso de quem ainda é candidato e quer cooptar eleitores. A cada dia surge um fato que ocupa todos os espaços da imprensa, inclusive internacional, fato distante de atos de governo. Apenas polêmicas de coisas menores, caseiras, domésticas e pessoais. E esses fatos que o presidente provoca se voltam, todos, contra ele.
A estratégia de comunicação está equivocada. Veicular na sua conta pessoal (Twitter) cenas pornográficas com críticas a blocos de carnaval e insinuações de que escolas estariam envolvidas com tráfico mostra claramente o equívoco; estaria esvaziado de temas que pudessem ocupar seu tempo em proveito de coisas do governo? A manutenção do ministro do Turismo, com todas as evidências de desprestígio, não se traduz em ações que possam representar a confiança que lhe depositavam ao tempo da eleição. Todos aguardavam as novidades da reforma da Previdência. Surgiu a proposta, e mesmo sem ser conhecida ainda pelo Congresso, seu autor se encarrega de desmoralizá-la, já adiantando modificações importante no texto; se poderia ser melhorada, o mais racional seria apresentá-la da melhor forma e lutar pela sua aprovação. A cada manifestação sua, aumenta a desconfiança e diminui a esperança.
O presidente Bolsonaro está perdendo a confiança, inclusive de bolsonaristas, sem que ninguém participe disso, nem imprensa, nem oposição; não há como dizer que alguém está minando o seu governo; é ele próprio que a cada dia e a cada manifestação nos deixa estupefatos. Está se comunicando desastrosamente. Seu porta-voz é ineficiente e incompetente; ele próprio é um fracasso de comunicação e de estratégia de governo. E, desta forma, muito cedo, o amor está findando e vamos torcer para que não haja um rompimento, que diferentemente nas paixões humanas, é sempre mais traumático